sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Gostei tanto que traduzi* pra compartilhar.

Terminei com alguém que amo e isso foi mais difícil do que pensei.
Terminar é uma porcaria. Eu nunca pensei que poderia machucar tanto, porque quando você termina com alguém é porque não está mais apaixonado, certo? Nem sempre.
Eu estava namorando o cara perfeito (vamos chamá-lo de Joe). Ele não era perfeito, mas estava bem perto disso. Ele era gentil, doce, engraçado, realmente encantador. Essencialmente, tudo o que eu poderia esperar de um cara, inclusive um par de maçãs do rosto incríveis. (Meninas, não subestimem o poder de maçãs do rosto bem definidas).
E, aqui está a coisa toda: Nos demos muito bem. Nos primeiros dois anos estávamos sempre rindo, trocando carinhos, jogando vídeo game e enrolados nos lençóis. Fomos sucesso absoluto. No começo.
Quando nos graduamos, em maio, namorávamos há dois anos e meio. Até aquele momento, suas falhas me pareciam como imperfeições perfeitas que me cativavam.
Planejei nosso futuro juntos, na minha cabeça e abertamente. Gostaríamos de mudar para a Filadélfia de mãos dadas, pesquisar por apartamentos juntos e falar sobre como seria adorável ter um deles para nós dois. Isso parece ridículo, mas certamente eu não achava isso naquele momento. Acho que é amor, né?
Mas depois da faculdade, vi nossa relação de uma maneira completamente diferente. Me vi tentando insistentemente me conectar com ele, para ficarmos na mesma onda. Comecei a ficar cansada e cínica. Achei que fosse uma fase, um soluço, uma mudança da rotina depois da graduação.
Até que um dia bateu que: Não é apenas um soluço. Nós estávamos diferentes. Sempre fomos diferentes. De repente, eu não conseguia mais nos ver realmente conectados no mundo real. Havia uma distância entre nós, um abismo que foi se alargando tão rapidamente que eu fiquei com medo de ser tragada para sempre. Eu estava cansada de chegar nele esperando que agarrasse minha mão e me desse a crteza de que não me deixaria cair.
Mas não havia um ponto. Nenhum de nós estava crescendo e não houve redução do abismo. Não quero mais estar nesse relacionamento, pensei.
Essa constatação fez meu coração afundar nas profundezas do meu estômago. Eu nunca estive em uma situação como essa antes. Meu primeiro relacionamento totalmente destruído. Não havia mais abismo-  apenas uma explosão. Pensei que apesar de ser um caso miserável, era óbvio o que precisava acontecer. Ele era um idiota, me tratava mal, terminamos, me mudei, e é isso. Mas foi diferente. Continuo amando Joe. Me preocupo com ele e ele foi um dos meus melhores amigos. Mas eu sei que romanticamente não podemos mais ficar juntos.
Há um grande equívoco no mundo, graças à boa e velha indústria da comédia romântica, de que quem termina é frio, sem coração e está pronto para correr o mundo e fazer qualquer coisa assim que der um pé na bunda do outro. Talvez esse seja o caso de alguns. Mas, muitas vezes, pelo menos pra mim, nada parece estar tão distante da realidade.
Tive um monte de sentimentos e pensamentos que não faziam o menor sentido para mim.
Isso porque a pior parte de terminar com alguém a quem você ama é convencer a você mesmo de que precisa fazer isso, em primeiro lugar. Com certeza você sabe que essa decisão é para o seu bem, mas isso não quer dizer que será fácil. Na verdade, você sente tantos e tão diferentes níveis de dor que não sabe qual deve processar primeiro. Você se sente como um criminoso, porque parece que está apunhalando seu melhor amigo e parceiro pelas costas depois de anos de promessas.
Você se sente muito sozinho, porque perdeu uma das suas companhias mais próximas, aquele para quem você mandava mensagem de "bom dia" e "boa noite" todos os dias.
Você se sente perturbado porque continua sendo lembrado disso tudo isso graças a uma música no rádio, ou um banco em que vocês almoçaram juntos, ou alguma bugiganga que ele tenha te dado e que você encontrou atrás da sua cama.
E, no meio de tudo isso, você continua querendo mandar mensagem pra ele contando tudo isso porque ele era quem sempre enxugava suas lágrimas.É como reviver o término de novo e de novo. Tudo isso é angustiante a ponto de te fazer duvidar, afinal, como poderia ser a decisão certa se te faz querer ficar o resto da vida sob as cobertas? Fui devastada para depois perceber que isso é completamente normal. Às vezes, a decisão certa é a mais difícil. Eu não poderia "consertar" meus sentimentos. Consertei o que podia simplesmente terminando um relacionamento que já estava destruído. Foi o melhor para nós dois, mesmo não parecendo. Tudo o que eu poderia fazer era deixar minhas emoções me lavarem e deixar o processo de cicatrização começar.
E eu fiz isso. Dia após dia, me senti melhor. Graças à tonelada de episódios de New Girl no Netflix (tipo, 15 episódios em uma noite), aos meus amigos e à minha escrita, comecei a me sentir eu de novo.
Ouça. Eu sei que todo mundo diz para não fazer mudanças bruscas no cabelo depois de um término de relacionamento, mas eu discordo completamente. Pintei o meu cabelo de roxo e me senti empoderada depois disso. Comecei a fazer coisas completamente novas pra mim - e só pra mim. Isso me lembrou que romper com o cotidiano pode parecer assustador, mas mergulhar no desconhecido não é nada menos do que emocionante.
Após algumas semanas de pura tortura, terminei definitivamente meu relacionamento com Joe. E acho que se foi a coisa mais complicada que tive que fazer, foi a decisão certa.
Terminar com alguém a quem você ama é terrível. É assustador como o inferno. mas é necessário pra passar para uma fase mais feliz da vida. você é fabulosa, e será ainda mais quando der a volta por cima e sair mais forte do que nunca.
Lembre-se: Quando se está com o coração partido, é fácil se sentir como se você fosse a única a passar por isso, mas você com certeza não está sozinha.


*Traduzi, mas não é uma tradução literal, muito menos profissional. A intenção era compartilhar esse texto lindo, não virar a tradutora oficial Inglês/português então perdoem o amadorismo.

O texto original (para você traduzir do seu jeito) está disponível Aqui.
(http://hellogiggles.com/i-broke-up-with-someone-i-love-and-it-was-harder-than-i-thought/2#read)









quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O que você NÃO vai ser quando você crescer?

Há dez anos, a garota com dois piercings no supercílio direito, cabelo cacheado e recém chegada ao fantástico mundo dos estudantes universitários se perguntava, ao som da Legião Urbana, o que queria ser quando crescesse.
Não sabia a resposta. Mas sabia exatamente o que NÃO queria ser e, me parece que, uma década depois, não me distanciei dessa meta nem por um segundo. 
Não permiti que as decepções, frustrações e erros me tornassem uma pessoa amarga.
Jamais me neguei a sorrir para quem sorriu para mim, ainda que o que o meu coração pedisse fosse cara amarrada.
Nunca me fantasiei de mulher mais feliz e bem resolvida do mundo para mascarar as minhas feridas.
Eu caio, sangro e espero cicatrizar.
Não deixei a infância sair de mim, apesar de ter passado da adolescência e não me comportar mais como quando tinha quinze anos.
Continuo com uma séria dificuldade de me abrir para o novo e uma enorme facilidade de agregar gente do bem perto de mim.
Eu queria não ser só e nunca fui.
Tive medo de precisar fingir uma felicidade exagerada para convencer o mundo de que estou bem. 
Eu não.
Minha tristeza é clara e eu consigo expulsar do meu corpo com a mesma presteza que o meu organismo expulsou os piercings que coloquei há dez anos.
Não deixo de estender as duas mãos a quem está comigo e também não deixo de fazê-lo para os que reconhecidamente querem apenas me desequilibrar.
Como conheceria o equilíbrio se nunca tivessem tentado me puxar o tapete?
Nenhuma cara amarrada, frase mal dita ou comentário maldoso jamais teve a força de me fazer desistir, parar ou regredir.
Eu sou dos Santos Reis! 

"quem me vigia não dorme, me protege e não vacila
Sempre me olha e vê tudo lá de cima

Ele viu a minha luta e sabe como é que é

Que o meu corpo é blindado pela fé... "


Não sou responsável por tudo o que me acontece, mas tenho o dever de cuidar de como isso vai afetar a minha vida.
Hoje é o dia oficial de anunciar que a Ludi modelo saco de pancadas sorridente não está mais disponível. Agora só tem Ludi no modelo pode bater que eu levanto mais forte e mais sorridente ainda.
É que sorriso eu não nego a ninguém. Não é sacrifício nenhum, pelo contrário. 
(Karine, peguei emprestado seu Gif. diz muito sobre o que eu quero dizer aqui, você sabe)

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Outro texto que eu gostaria de ter escrito. Se soubesse escrever bem assim.

A Travesti, o Advogado e Cazuza

Por Marcio Sotelo Felippe (Inspirado em fatos reais e inspirado em uma pergunta que todo criminalista já ouviu)
Nas noites de frio é melhor nem nascer / Nas de calor, se escolhe: é matar ou morrer / E assim nos tornamos brasileiros / Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro / Transformam o país inteiro num puteiro / Pois assim se ganha mais dinheiro” (Cazuza, O Tempo Não Para)

O rapaz viera de Minas fazer a vida em São Paulo. Dera-se razoavelmente bem. Comprara um opala usado, mas em boas condições. Uma madrugada apareceu morto no carro estacionado nas imediações da avenida Indianópolis. Um tiro na cabeça.
Na mesma noite a polícia prendeu o suspeito. Uma travesti teria assassinado o rapaz em um programa. Matar para roubar, latrocínio.
O jovem advogado nomeado pelo juiz entrevistou o réu antes do interrogatório. Ele negou. Negou para o juiz. Já havia negado para a polícia. Negou tudo o tempo todo. Serenamente.
O advogado impressionou-se com a fragilidade do inquérito. Não havia prova alguma. Ocorreu que a polícia recebera informação de um alcagueta. Amarrou circunstâncias e indícios fracos dando a tudo a aparência de racionalidade investigativa. O informante nunca apareceu. Nunca pode aparecer. Se aparecer morre. O delegado mandou para o fórum. Deu certo. Denúncia por latrocínio.
A coisa toda era tão frágil que o advogado explodiu por dentro. Crime pesado com acusação precária transformavam um jovem advogado em hollywoodiano personagem de filme. A máquina do Estado tinha sua lógica vil. Crime pesado que saía em jornal sem solução era duro de engolir para a polícia. Um pagava. Mas havia alguém para mudar o enredo. Ele.
O defensor entendeu, pois, o jogo jogado. Era simples: acreditar no alcagueta. Ainda que fosse “fria” a delação, ou movida por vingança, ou por nada, apenas para mostrar serviço para a polícia, ele que movimentara toda a máquina do Estado. A polícia acreditou e convinha acreditar: resolvia um latrocínio. O Ministério Público acreditou. Na denúncia, in dubio pro societate e seja o que Deus quiser. Faltava o juiz acreditar. Uma aposta. Se desse certo, missão cumprida. Se não desse, o sol nasceria do mesmo jeito no dia seguinte.
“Não vai ser bem assim”, pensou o advogado no final do interrogatório. Saiu do fórum indignado e foi tomar um café expresso ali na rua XI de Agosto, ao lado do Palácio da Justiça. Na época o fórum criminal era lá. Sorveu o expresso curto, forte e sem açúcar entre murmúrios. “Incrível…delegados, juízes, promotores, a elite do Estado, todos carimbando a delação de um lumpen alcagueta. Se o povo soubesse como são feitas as leis, as salsichas e as decisões judiciais…”
O processo correu como o advogado estava prevendo. Nada que prestasse como prova. Depoimento dos policiais que prenderam o réu e de uma tia da vítima que nem morava aqui e apenas cuidou do funeral. A audiência constrangeu todos. Deu pena da pobre mulher ouvindo aquela história de como seu sobrinho havia sido assassinado em um programa com uma travesti.
O juiz acreditou no alcagueta. Como o delegado e o promotor. Fundamentação um pouco mais elaborada do que a da polícia, arrumando melhor aqueles indícios e circunstâncias, mas tudo, afinal, resumiu-se ao informante das sombras para embasar uma pena pesada.
O indignado defensor foi ao presídio conversar com o réu antes das razões do recurso. Tinha algumas coisas a esclarecer. Absolutamente convencido da inocência do cliente, preparava uma peça arrasadora e irrespondível.
A travesti não era mais travesti. Havia retomado a aparência masculina. Era então um “bíblia”. Na linguagem dos presídios, “bíblia” é o que se converte a uma religião.
A conversa foi breve. O réu interrompeu bruscamente o advogado, antes que ele terminasse a pergunta
- Doutor…eu dei o tiro na cara do rapaz, doutor. Meus dias eram 24 por 48 horas, doutor. Ele não quis pagar. Atirei, peguei umas coisas dele e dei no pé…
“24 por 48…tiro na cara”. O advogado nunca tivera a menor dúvida de que ele fora o primeiro miserável que a polícia achou para livrar-se do latrocínio, embarcando na armação de um alcagueta. Porque um inquérito com aquela ausência de prova era inacreditável. O personagem hollywoodiano largou o seu corpo e voou sobre as ruas de Santana.
Anos depois o advogado ouviu uma canção de Cazuza que dizia “meus dias são de par em par”. Cazuza dizia poeticamente algo semelhante, “par em par”, ao “24 x 48” daquele réu. Dormia 24 horas e dobrava os dias acordados. Par em par. Drogas ou remédios. Ao final das 48 horas, o que era o que, quem era quem, o que valia alguma coisa, o que era real?
Era assim que a polícia trabalhava. Apostava. Muita gente inocente ia para cadeia, mas de vez em quando a roleta parava no lugar certo. Duas vezes por dia um relógio quebrado acerta as horas.
O ânimo era outro, mas advogados têm prazos. Foi para o escritório e avançou para depois da hora do expediente fazendo um extenso e fundamentado recurso. Como epígrafe uma citação livre de Kant: “o princípio da moralidade e o princípio da publicidade não podem ser incompatíveis”. Nem esperava que apreciassem a sutil tirada filosófica: quem podia dizer qual, de verdade, o fundamento daquela condenação? Toda a sofisticada máquina do Estado movimentada pela delação de um alcagueta?

Trinta anos depois daquele dia em Santana o advogado jantava com um conhecido.
- Você defende gente que sabe culpada. Como você pode fazer isso?
Já ouvira tantas vezes aquela pergunta…nunca soube se sair bem dela. Em geral percebia um muro intransponível de linguagem e conceitos.
O advogado ergueu a taça de vinho devagar e levou à boca pensando na resposta à pergunta desagradável. Numa fulminante associação de ideias veio a frase de 30 anos antes. “24 por 48, doutor… tiro na cara”.
Articulou mentalmente a resposta.
“Consigo porque é meu dever e esse dever está apoiado em um princípio superior.
Se culpados são condenados sem provas, pessoas inocentes também começarão a ser condenadas sem provas. A sociedade ganha mais deixando solto o réu culpado contra quem não há provas suficientes do que mandando para a cadeia inocentes. Por isso há o princípio da presunção de inocência.
Sociedades democráticas não são construídas sem princípios e princípios não podem ser respeitados somente quando convém.
Então, meu caro, ou o Estado prova ou o Estado solta. Não pode condenar pela mera convicção subjetiva de delegados, promotores ou juízes, ou por uma aposta deles na alta probabilidade de o acusado ser mesmo culpado. Já os flagrei fazendo isso e sabia que o réu havia cometido um crime horroroso. Mas era só uma aposta do Estado. Aposta casualmente correta, mas, como toda aposta, irracional e irresponsável. Ouvi a confissão do réu e a esqueci quando atravessei o portão do presídio.”
Isso tudo ele pensou. Depois balançou a cabeça num gesto de desânimo, como quem diz “deixa pra lá”, e respondeu, pousando a taça na mesa:
- Os réus não contam isso pra gente.
Depois de 30 anos, aprendera que uma noite ou em uma conversa de bar não se dá um salto na consciência de quem não assimilou ainda o processo civilizatório. Sim, muita gente boa e razoável já conversara algo assim com ele, mas aquele conhecido não estava enquadrado no conceito de gente boa e razoável. Mas prometeu a si mesmo um dia voltar ao assunto com aquele seu interlocutor.
Marcio Sotelo Felippe é pós-graduado em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela Universidade de São Paulo. Procurador do Estado, exerceu o cargo de Procurador-Geral do Estado de 1995 a 2000. Membro da Comissão da Verdade da OAB Federal.

Fonte: Justificando