terça-feira, 6 de novembro de 2012

Os amantes do Café Flore (Les Amants du Flore)

Zapeando pelo face (assumo meu vício), encontrei um link que me levou ao filme biográfico do casal Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir.
Assisti uma versão de youtube. Ruim porque as legendas nem sempre acompanhavam todas as falas (e meu francês inexiste) e bom porque foi esse vídeo que despertou minha nova inquietude.
Como pôde Simone suportar?
Até aqui eu achava Sartre um fofo.
Durante o filme fiz comparações e após, cheguei à conclusão de que Sartre é exatamente o homem que eu não quero como companheiro. Isso porque ele não foi um companheiro, no sentido que conheço dessa palavra (pessoa que acompanha, com quem se pode contar).
Aqui começo meu trabalho de spoiler, se ainda quer assistir, feche logo a página.
Simone é uma mulher branca, intelectual e européia, desse lugar, não parece tão difícil (apesar de ser de uma família visivelmente decadente) tornar-se uma notável pensadora e nos emprestar suas ideias revolucionárias sobre 'O segundo sexo', sendo até hoje referência nos estudos de gênero mundo a fora.
Mas, teria sido mais fácil seguir como as outras. Cuidar para conseguir um marido e servir-lhe de amante e empregada. Tudo o que mais a amedrontava.
Sob os termos (subentendidos) de um acordo, Simone e Jaean lançaram-se em um relacionamento que se fundava na verdade. Sartre lhe disse desde o princípio que não era dado à monogamia e que, eventualmente poderia envolver-se com outras mulheres, sem que isso significasse uma ameaça à sua companheira.
Simone era brilhante, revolucionária nas ideias, mas não suportou a vida que escolhera.
As palavras de sua mãe, enquanto recuperava-se de um problema pulmonar, afetaram-na mais do que ela mesma poderia admitir e, se não antes, ali percebeu que lhe fazia falta o cuidado do seu par.
Sartre sim, era livre e despudorado, tinha inúmeras outras mulheres e, em certo ponto algumas delas pareciam-lhe mais prioritárias do que Beauvoir, que ia envelhecendo junto com ele. Exceto, claro, quando era necessária a sua contribuição para as produções do gênio.
De modo geral, Simone foi, tudo aquilo que tanto criticou. Foi submissa, na medida em que, não conseguiu abandonar a vida que levava e seguir com o seu amor, o americano Nelson Algren. Empregada, pois gastou muito de seu tempo auxiliando o companheiro com suas produções e foi, como eu, uma mulher ciumenta, que não optou pela monogamia por não lhe ter sido facultada essa opção. O filme "Os amantes do Café Flore", serviu para mim como exemplificador de um texto que postei aqui há um tempo atrás, extraído da prova de vestibular que fiz para a UNEB. Simone também chorava, sentia ciumes e queria alguém para chamar de seu. Não há filósofo que viva como diz que deve-se viver.
Isso é ótimo, por que aproxima-os do que eles realmente são: humanos.

"nenhum ser humano é capaz de alinhar completamente a sua vida aos seus princípios"

domingo, 12 de agosto de 2012

Sua rasteira não me derrubou. Tente novamente, mais tarde!

"Esperem sentados a rendição. Nossa vitória não será por acidente"

Dia dos pais e eu aqui, querendo desabafar sobre coisas não tão bonitas e nem legais como as declarações fraternas.
Há algum tempo tenho observado como a simples presença de algumas pessoas pode melhorar o nosso dia e como outras, no mínimo contato, conseguem destruir a semana inteira.
Você conhece alguém que não consegue dizer nada de positivo?
Aquela pessoa que até para te elogiar deprecia, sacomé?

"- Seu cabelo está bonito, mas também, pior do que estava não podia ficar, né?"
" - Nossa, passou no vestibular? Parabéns! Mas por que não passou na UEFS?"
"-Tá namorando é? Que bom! Agora segura esse daí para não ficar pra titia, viu?"

Cresci ouvindo os outros dizerem que "O que vem de baixo não atinge", mas é meio diferente quando você não pode se esquivar da saraivada.
Por muito tempo tentei pensar que o jeito dos outros a gente não tem que entender e nem aceitar, apenas respeitar. Mas e quando esse jeito te desrespeita? 
Gente má, medíocre e mesquinha tem a mania de rebaixar, menosprezar e ridicularizar os demais.
A minha sorte, digo a minha maior sorte, é ter em casa o meu porto seguro. Ter por quem vencer todas as adversidades, por quem sorrir de felicidade e não por educação.
Acho bobagem dar o troco. Querer vencer para mostrar a quem não nos achava capaz.
Como diz o ditado :  "Na boca de gente ruim quem é bom não vale nada".
Por melhor que você seja, por mais alto que você suba, quem quer te colocar para baixo vai sempre ter um jeitinho especial para tentar derrubá-lo, nem que seja só por um segundo. Então, para que mostrar a ele o quanto você é bom?
Eu, quando percebo que alguém gosta de ser superior, deixo e ainda concordo. Acredito que alguns só tem isso para acreditar e se apegar pra viver e detesto me sentir a bruxa má que vai acabar com a diversão alheia.
Eu sei por quem quero ser maior e, sem sombra de dúvidas, não é pelos que me querem menor.
É pelos meus. Por quem se dedicou e se sacrificou por mim até aqui.


sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Professor: qualidade na escola particular e mediocridade na escola pública.


Hoje, com o fim da greve dos professores do Estado da Bahia, pipocaram comentários e textos acerca dos avanços e retrocessos causados pela mesma, mas não é sobre isso que estou com vontade de escrever.
O que me trouxe aqui foi o comentário de um rapaz, fruto de um discurso que ouço há tempos em inúmeros lugares e que eu mesma já disseminei (quando eu era adolescente, que fique claro!).
A conversa é a seguinte: Tem professor que dá aula boa em escola particular e esculhamba quando a aula é na escola pública.
Na adolescência rebelde eu pensava que o problema era a falta do patrão. Na escola particular, geralmente o dono fiscaliza de perto e o professor é cobrado diretamente pelo cliente ( o aluno e seu pai, que paga caro), já na escola pública o patrão é uma instituição fantasmagórica. Ninguém o vê e os pais e alunos nem sempre se sentem no direito de exigir mais, pois há a impressão de que o ensino é gratuito.
Okay, na minha mente adolescente revolucionária, rousseauniana, cheguevarista, socialista, essa explicação fazia total sentido.
Mas aí, o tempo passou, tirei o piercing, abandonei as pulseirinhas de palha e o cabelo vermelho e fui viver a vida real, essa vida onde a gente trabalha duro o mês inteiro e chega no final fica devendo, sabe?
Nesse um quarto de século vivido já tive tempo para várias experiências e, uma delas, foi vivenciar, ao mesmo tempo, a docência em uma escola pública e outra particular. Mesma série, mesmas disciplinas. Vivi na prática isso que todo mundo diz que acontece e pude constatar: aula de escola pública é diferente de aula de escola particular.
O que eu não sabia é que a diferença quase nunca se dá por fatores externos à própria sala de aula.
Deixa eu explicar direitinho: na escola particular é assim, o estudante é aprovado se alcançar uma média (normalmente 6 pontos), ignorando todas as discussões sobre avaliação, consideremos que o estudante que atinge a média conseguiu, ao longo do ano desenvolver as habilidades mínimas requeridas para o próximo nível de aprendizado. Assim, é praticamente impossível encontrar um estudante de escola particular no 3º ano do ensino médio que não saiba ler (gente, salvem as raras exceções). Aí a gente pula para os critérios da escola pública. O estudante tem uma nota mínima a alcançar? Sim, apesar de comumente ser menor do que a da escola particular. Só que na escola pública (pelo menos onde eu trabalhei até hoje) isso nem é tão levado em consideração, às vezes o fato de o estudante já ser repetente de longa data, pai de família, trabalhador, conta muito mais do que a média na hora do conselho de classe. Tá errado? Não.  O estudante não é máquina, é gente e tem uma vida para além do mundo escolar, mas no fim das contas essa avaliação coloca na mesma sala de aula estudantes com níveis de desenvolvimento discrepantes.
Aí é que tá!
O professor que saiu da sala da escola particular botando pra quebrar, entra na sala da escola pública e vê que enquanto tem um estudante bombando na disciplina tem o outros na pindaíba, sem saber nem que prova objetiva é de marcar.
O que ele faz?
Nivela por baixo. Conhece o termo? Ele dá uma aula que pode ser entendida tanto pelo bombástico quanto pelo pindaimbístico, e o resultado é uma queda na qualidade da coisa toda.
Uma vez eu fiz uma brincadeira (sou ótima com brincadeiras que ninguém acha graça):
Peguei um teste que apliquei na 6ª série (7º ano do fundamental) de uma escola particular e transformei em teste do 2º ano do ensino médio de uma escola pública. resultado?
Meus meninos do 2º ano quiseram me matar! Acharam a avaliação absurdamente difícil e a maior nota não ultrapassou 50% do peso da avaliação.
Incompetência minha, ou de um sistema que pensa que incluir é entregar certificado de conclusão de Ensino Médio a estudante que mal sabe ler?
Tirem suas próprias conclusões...

domingo, 29 de julho de 2012

Estragou tudo!



Quando se vai fazer um bolo, o primeiro passo é separar os ingredientes.
Em seguida, precisamos verificar se os mesmos estão adequados para o consumo e então devemos começar a seguir a receita.
Tem gente que sabe tudo de cabeça, mas eu ainda leio no fundo da caixinha (sim, só faço bolo de caixinha!).
Se faltar um ingrediente, Punf! A receita foi por água abaixo.
Não precisa nem faltar, é só ter algum deles estragado, um forno que não esquenta o suficiente, ou mesmo abrir para olhar na hora errada...
E na vida da gente é diferente?
Na de vocês eu não sei, mas na minha é desse jeitinho mesmo!
Você faz tudo certo (ou pelo menos achando que está certo), e basta um passo em falso para... BUUUM! Estragar tudo.
É como aquele cara que respeitava a mãe, amava a namorada, baixava a tampa da privada depois de fazer xixi, era estudioso, mas em um dia de diversão com os amigos acabou por se meter em uma roubada.
Ou a menina que cresceu chamando os mais velhos de senhor, dando bom dia quando passava, obedecendo aos pais e que, por um deslize, engravidou na primeira transa.
Sabe aquela roupa linda que você comprou e, sem querer sua mãe manchou enquanto lavava? Retire a parte do 'sua mãe' e se coloque como a lavadora que manchou a própria roupa linda sem querer. É bem isso o que eu quero dizer.
É só uma observação sobre como nós temos o poder de transformar memórias que seriam maravilhosas em momentos não tão maravilhosos, justamente porque nós não somos perfeitos. 
Sendo assim, é sempre bom tomar um pouco mais de cuidado, né?
Se certificar de que os ingredientes estão mesmo todos ali, que são de qualidade e prestar atenção na hora de retirar o bolo. Porque a sua falta, pode até não ser tão grave para você, mas a repercussão dela nos outros pode ser devastadora e, eu acredito que você se importa com alguém além de você mesmo, né não?
Pronto, falou a conselheira da madrugada.


segunda-feira, 23 de julho de 2012

104 dias, confere?

Já li tanto sobre a greve.
Ouvi tantas coisas bacanas e tantas coisas desagradáveis.
Na infância e adolescência eu tinha um medo danado de escola pública, só porque ouvia dizer que lá não se aprendia nada.
Agora, adulta, eu morro de medo da escola pública, só porque eu sei que lá meu trabalho não é reconhecido financeiramente e nem de qualquer outra maneira, uma vez que, quem não educa os filhos em casa acusa o professor de incompetência.
Estou feliz com o sindicato dos professores. Pela primeira vez na minha vida senti coesão e força partindo dali.
Professor é classe desunida? Mas até desunidos eles estão juntos e fazendo barulho.
A situação dos estudantes é preocupante. E a dos professores não sempre foi? Ah não, claro! Quem se importa com os professores?
Essa greve me faz admirar a cada dia mais mães e pais de família que deixaram suas casas para fazer valer um direito que ainda não lhes garante qualidade de vida, mas é algo que conseguiram através da luta e não podem se deixar abater por conta do capricho de alguém que, quando lhe era conveniente se dizia sindicalista.
Avante, colegas. Educar por amor, só mesmo aos nossos filhos.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Eu assisto o que eu quero!

Essa semana uma menina lá da minha sala perguntou para a professora de Português: - Por quê você não se inscreve no Big Brother?
Pronto...
Foi meia hora de aula discutindo o quão alienante é o programa mencionado.
A professora entre outras coisas falou que na casa dela a TV é programada para pular o canal 11 (no caso a Globo). Começou um tititi, aquelas discussões de intelectuaizóides.
E eu, como sempre fiquei inquieta.
Mas peraê, como é que você vai saber que o BBB é ruim se o canal não pega na sua TV?
Preconceito.
Não confunda aqui com discriminação, não sei se é o caso, mas é preconceito sim. Para saber se é ruim ou bom eu preciso experimentar, sacomé?
Eu conheço um monte de gente que se acha esperto por que não assiste novela, Faustão e nem BBB, mas fica lendo Veja, Época e Correio. Ah, grande vantagem!
Depois que aprendi a ler parei de me proibir das coisas.
Se eu chegar em casa e estiverem assistindo Tereza Cristina jogando Grizelda da escada eu vou assistir no maior entusiasmo! Se estiver passando a feirense do BBB12 dizendo que veio da roça e que cria galo eu vou assistir também, sabe?
Por que descobri que muito melhor do que mudar de canal ( a não ser que o que esteja passando no outro canal seja realmente mais agradável para mim) é saber ler o que se vê.
É assistir a novela e me perguntar que valores são esses que ela tenta me passar e desconstruí-los.
Por falar nisso, no primeiro dia do BBB uma cena me chamou muito atenção, a pergunta de Bial para o participante negro, sobre cotas...
Tirou onda né?
Tirou.
Sambou na cara da sociedade, mas não pela resposta patética e clichê e sim pela cara-de-pau, dele e do entrevistador.
A pergunta foi direcionada e já tinha resposta ensaiada. Na verdade a ideia do programa era responder à sociedade por que o BBB12 tem apenas um participante negro (não que nas outras edições os negros tenham dominado, né?). Respondeu mal, bem do jeitodas organizações Globo. Picou-lhe um clichêzão na nossa cara e mandou todo mundo engolir calado.
Teve gente que aceitou.
É aquela coisa, cada um lê o mundo de um jeito né?
Esses dias mesmo, tava lendo lá no facebook uma galera postando essa foto aí, legendada, achando a resposta mais phodástica do mundo,  vi gente dizendo até que no Brasil racismo não existe faz tempo...
Democracia racial? Ah, tá, senta lá.
Vamos fazer uma brincadeira clássica.
Você é dono de uma loja de roupas Trend Topics lá do shopping, coloca no Jornal um anuncio para a seleção de um vendedor, recebe os currículos e seleciona os dois mais qualificados para uma entrevista. Depois que a moça lá do RH faz as entrevistas ela te entrega os documentos dizendo que os dois são excelentes e que você vai ter que escolher um. Te entrega as fotos abaixo: 



E aí?
Quem fica com o emprego?
Vai mentir, né? Não precisa, eu não sei sua resposta e não vou te julgar. É você quem vai fazer isso por mim. Segredinho seu.
É disso que eu falo.
Aqui no Brasil negros e brancos não estão equiparados.
Para ser equivalente ao branco, o negro sempre tem que estar um degrau acima. Ou é mais qualificado, ou mais rico, ou menos inibido. Se não se destacar em nada, acredite, o branco está na frente, por que o Brasil gosta de brancos.
É costume de colonizado né? O europeu é o melhor, sempre.
E agora que eu sei disso, o meu racismo latente sumiu?
Não.
Mas eu vou lutando, uma hora consigo descolonizar minha mente! (Parafraseando Christiane Vasconcelos)