terça-feira, 5 de abril de 2011

Quem quer ser um universitário?

' É um novo Apartheid, sem dúvidas.
Baixou o nível dos estudantes de universidade pública.
É injusto, o governo está dizendo que os cotistas não têm capacidade para entrar na universidade com seus próprios esforços, isso é afirmar a inferioridade deles. '
 A idéia principal é (ou deveria ser) melhorar o ensino desde a sua base e então garantir uma educação de qualidade para todos, mas aí nos perguntamos: E o povo que já teve uma educação de base ruim, fica como?
A política de cotas é (ou pelo menos deveria ser) uma política de ação paliativa, no sentido de que atenderia a essa demanda. Enquanto a educação de base é melhorada, os estudantes que não tiveram esse direito (a ter uma educação de base de qualidade), recebem o benefício de ter vagas "garantidas" dentro das universidades públicas do país.
Precisamos deixar de demagogia e assumir que o ensino das escolas públicas do Brasil é, em geral, muito inferior ao ensino das escolas particulares. As escolas têm estrutura precária, os professores estão desmotivados, a coordenação em geral faz um trabalho de faz-de-conta e os estudantes, ah! Esses estão entregues à sua própria sorte.
O aprendizado nesses ambientes é mínimo quando comparado a instituições privadas e o resultado disso fica nítido nas avaliações Brasil a fora.
As cotas servem para equiparar, a competição fica de igual para igual. Estudantes de escolas particulares competindo com seus colegas oriundos do mesmo tipo de instituição e estudantes de escolas públicas competindo com pessoas de nível escolar semelhante ao seu. Sim, claro existem inúmeras exceções, sempre irão existir, mas essa, por hora, é a regra geral.




Certo, mas e os negros?




Não apenas os negros mas também os indígenas, têm cotas para entrar nas universidades públicas Brasil a dentro. Estão subestimando sua capacidade cognitiva?
Esse é o argumento dos que acusam a política de cotas de racismo. Se todo o racismo no Brasil colocasse a vítima em um patamar semelhante ao do agressor, não precisaríamos nem desse disfarce de democracia racial no qual fingimos acreditar, né?
No ano passado, Vovô do Ilê em entrevista ao vivo ao Jornal Hoje, justificou a exclusividade de negros no bloco carnavalesco (Ilê Ayê) dizendo que no dia em que negros e brancos fossem tratados de forma igual na Bahia (e no Brasil), os brancos poderiam comprar a fantasia do Ilê. Os não contemplados com essa resposta certamente reviraram os olhos e gritaram RACISTA!  Mas Vovô já viveu muito, ele sabe o que diz.
Quando se vai aos classificados de jornais em busca de empregos, não é difícil ler-se: "boa aparência".
Ter boa aparência no Brasil é não parecer negro e nem pobre, é ter traços de brancos. 
Os negros e os indígenas conseguem equiparar-se aos brancos quando estão um nível acima deles, por que o fator COR ainda conta, e muito.
Ainda hoje utilizamos a expressão bronwn para designar gente que achamos parecidos com ladrões. Brown é a cor marrom em inglês, e marrom é a cor do negro, então estamos dizendo que os negros parecem ladrões, procede?
Há igualdade racial no Brasil?
Se não há igualdade de tratamento na vida fora das academias (aqui entendidas como universidades), por que nos assustamos com a desigualdade no processo de seleção das universidades? É reparação. É uma maneira de dizer: 'Olha, a sociedade não te aceita, os empregadores não te quarem, os livros didáticos te ignoram, as novelas te ridicularizam, mas a universidade está de braços abertos para você. Aquele é o seu espaço e a partir de lá você pode mudar tudo isso para os seus filhos'.
Não sou cotista (adoraria ser), sou negra, sou professora, tive alunos de escolas públicas e particulares das mesmas séries e vi a diferença bem de perto. Enquanto professora defendo as cotas como medida paliativa para reparar esse abismo entre estudantes brancos de escolas particulares e estudantes negros de escolas públicas e hoje, como estudante e vestibulanda, não sou beneficiária desse sistema, justamente por não pertencer a nenhuma das camadas citadas. Sou negra de escola particular e defendo as cotas, até que a educação de base da escola pública eduque seus alunos e que negros e brancos sejam de fato vistos como iguais nesse país.
Me senti escrevendo um discurso de final de novela mexicana, mas enfim né? É isso aí, opinião é de graça e se não envolver nada que possa ser considerado crime a gente pode dar.

domingo, 3 de abril de 2011

O povo tá preguiçoso!

'Ninguém quer trabalhar mais!
O povo prefere viver na miséria do que trabalhar numa casa de família, um absurdo!
A culpa disso é do governo que acostumou os pobres com o bolsa família, criou um povo preguiçoso, que prefere viver na miséria do que trabalhar.
Antigamente que era bom, essas meninas novas iam para as casas de família trabalhar, e eram todas de confiança, agora só querem saber de homens'.
Quem nunca escutou isso?
Com todas as ressalvas que podem (e devem) ser feitas ao bolsa família e seus derivados, considero que ele acabou valorizando o trabalho do pobre.
É isso aí, me diga amiga (ou amigo) quem, em sã consciência vai sair de sua humilde residência para trabalhar na casa de outra pessoa e ganhar cem reais no final do mês, se pode ficar em casa mandando o filho ir para a escola e receber a mesma bagatela?
Não sei se foi criado com essa intenção,mas essa foi uma das consequências desse programa. O trabalhador pobre não aceita mais receber qualquer trocado em troca de seu trabalho.
E quem se incomoda?
Quem se incomoda com essa situação é uma camada emergente. É aquela gente que tem empregada doméstica e não pode pagar um salário digno (ou seja, não pode ter empregada doméstica, mas quer ter uma). Esses é que dizem que o bolsa família deixou o pobre preguiçoso e acomodado.
Engraçado como queremos ter o nosso trabalho recompensado e reconhecido mas não nos importamos com o trabalho do outro (principalmente se esse outro estudou menos do que nós).
Não recebo o bolsa família, não sou petista. Não sou ninguém, mas aqui escrevo o que eu quero né? Pois.