segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O texto que eu gostaria de ter escrito.

Achei na prova da UNEB e se afina perfeitamente com o que eu vivo repetindo aos quatro cantos...
“Igualdade” é uma das muitas palavras que suscitam paixões mais por suas conotações do que por seu significado: um significado extremamente difícil de definir e muito controverso. Confesso abertamente que não sou diferente do resto da humanidade nessa questão. Sempre que ouço a palavra igualdade usada num contexto político, reajo como um cavalo diante de um obstáculo que não quer pular: refugo.
E isto por mais de uma razão. Pessoalmente, não confio em igualitários. Especialmente se são intelectuais. Raras vezes encontrei um intelectual igualitário que me surpreendesse por ser uma pessoa realmente indiferente ao seu próprio status, e que, por conseguinte, aceitasse de bom grado mesclar-se humilde e despercebidamente com a massa. Assim como os filósofos que negam a realidade da identidade pessoal (e há muitos) em geral não permanecem de todo indiferentes ao nome nos cheques que recebem como pagamento pelas suas publicações, também os igualitários falam em favor da vitória – a deles – pelo menos tanto quanto falam em favor da verdade. Às vezes parece que nenhum filósofo vive como se acreditasse que o que diz seja verdade.
Embora às vezes até tentem os igualitários raramente conseguem sofregar a sua ânsia de dominar. Marx e Lênin, dois igualitários bastante conhecidos, sequer tentaram. Claro: nenhum ser humano é capaz de alinhar completamente a sua vida aos seus princípios. Eu, por exemplo, acredito na cordialidade, mas não posso afirmar que sempre fui ou serei cordial. A única maneira de eliminar totalmente a hipocrisia e a impostura da vida humana seria abandonar quaisquer princípios. Só que a pessoa que adota como meta política, princípio e paixão dominantes algo que representa uma violência contra os desejos igualmente dominantes do próprio coração flerta com o desastre: abre caminho às racionalizações mais elaboradas e, fundamentalmente, mais absurdas para justificar a prática do mal em nome de um suposto bem. É por isso que se conhecer a si mesmo, ou prestar atenção aos movimentos da própria alma, como diz Samuel Johnson, é extremamente importante. Se você sabe, no mais íntimo do coração, que quer ascender aos olhos do mundo, ocupar um cargo de importância, ser melhor que a maioria e não ser pior do que ninguém, ser admirado por todos, e assim por diante, não é bom fingir que é um igualitário. Tal pretensão cedo ou tarde acarretará uma deformação medonha do seu caráter e a destruição da sua probidade intelectual.
DANIELS, Anthony. Os dilemas da igualdade. DC Dicta & Contradicta. São Paulo: IFE, n. 06, dez.2010.p. 86-87.

sábado, 3 de setembro de 2011

O homem mal- educado.

Estava aqui estudando (quem lê pensa) e vi esse texto bacana...
Quis compartilhar aqui com meus leitores imaginários...
Lá vai:

" O MAL- EDUCADO não tirava o chapéu em nenhuma situação. Nem às senhoras quando passavam, nem em reuniões importantes, nem quando entrava na igreja.
Aos poucos a população começou a ganhar repulsa pela indelicadeza desse homem, e com os anos esta agressividade cresceu até chegar ao extremo: o homem foi condenado à guilhotina.
No dia em questão colocou a cabeça no cepo, sempre, e orgulhosamente, com o chapéu.
Todos aguardavam.
A lâmina da guilhotina caiu e a cabeça rolou.
O chapéu, mesmo assim, permaneceu na cabeça. Aproximaram-se, então, para finalmente arrancarem o chapéu àquele mal- educado. Mas não conseguiram.
Não era chapéu, era a própria cabeça que tinha um formato estranho."


TAVARES, Gonçalo M. O Senhor Brecht. Rio de Janeiro: Casa da palavra, 2005. pp. 20.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

L de Lázaro e de LINDO.

Acabou a bendita novela e eu fiquei aqui pensando numa frase que li hoje. Foi algo do tipo: "Se Lázaro Ramos e uma mulher cheia de dentes são os pegadores da novela posso manter as esperanças né?", mais ou menos por aí. Na hora em que li pensei - Também tenho chance eim?, aí depois isso ficou aqui, martelando na minha cabeça...
Lembrei do quadro do Pânico na TV "Lázaro Ramos da vida real", lembrei dos comentários hilários sobre como ele seria visto na vida real e fiquei me criticando por ter em algum momento concordado com isso, quis exorcizar e vai ser aqui.
Outro dia me peguei em uma situação embaraçosa. André fez alguma cara na novela e eu deixei o pensamento escapar "Lindo!" imediatamente fui repreendida por alguém que assistia a novela comigo "O que tu tá vendo de lindo aí rapaz?" e eu remendando o erro "Ele fez uma carinha tão fofa agora...".
Que vergonha de mim, que vergonha! Não é a Lázaro a quem devo desculpas, é a educação que recebi quem me deve. Aprendi na escola que ser branco é que é belo, que cabelo liso é que é bom e que o negro bonito mesmo é o que tem 'traços finos'. Olha lá Camila Pitanga e Taís Araújo que não me deixam mentir...
Negras lindas de tão brancas... Pq, vamos combinar né? Passa um Photoshop e deixa brancas aí p vc ver. As meninas tem mais características de brancas do que de negras...São lindas, lindas mesmo, e quero que minhas filhas saibam que elas são lindas p ver que é possível ser linda sem mudar de cor, mas quero que saibam mais, ser linda (ou não) é só um problema dos olhos que vêem.
Dizer que Lázaro com aquela 'boca de tilápia' e aquele 'nariz de bomba' é lindo assusta né? Não deveria. Me assusta pensar que ainda hoje em pleno século XXI as crianças ainda crescem vendo seus pais rirem do galã com cara de africano. Fomos mal educados e pensamos com nossa mentezinha colonizada, mas podemos tentar filtrar nossas falas e tirar delas todo (ou quase todo) o racismo, para ver se nossos meninos e meninas crescem com menos cores e mais pessoas nos olhos né?
Vamos exercitar?

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Quem quer ser um professor?

Em 2004, quando eu era estudante de Ensino Médio, achava que ser professor era o máximo. Normalmente, os professores nos fazem pensar isso. Chegam lá na escola cheios de ideias brilhantes, se mostram tão interessantes, tão poderosos tão legais...
Aí você vira professor e aprende que ser professor pode até ser bonito, mas não é nada agradável.
Professor não tem vida própria. Não tem liberdade para escolher o que vai fazer no fim de semana, a não ser que queira ser capa dos jornais do estado no outro dia, né não pró Jack?
http://correio24horas.globo.com/noticias/noticia.asp?codigo=34341&mdl=29


Mas pra que liberdade de escolher o que fazer no fim de semana se não sobra tempo? Professor leva o trabalho da escola para casa. O fim de semana é dividido entre correção e elaboração de provas, atividades e planos de aulas. E digo mais! Se ele tivesse tempo no final de semana não poderia escolher muito, já que não teria dinheiro para bancar boa parte dos programas pensados.


Como todas as outras coisas na vida, lecionar também tem seu lado bom, a afetividade. Amor, respeito e carinho são sempre bons e, muitas vezes se fazem presentes na relação professor/estudante. Além disso há o aprendizado e a satisfação em poder ajudar o próximo em algumas de suas dificuldades.


Infelizmente Amor, Respeito, Carinho e Satisfação por ajudar não pagam contas e essas chegarão a todo o momento.
A última moda dos últimos anos é o incentivo à licenciatura através de programas que facilitam o ingresso nas universidades e propagandas nos meios de comunicação de massa. Não me lembro de já ter visto nenhuma propaganda cujo lema fosse: "Seja médico", ou "Seja juíz", por que né?


Na Bahia as Universidades Públicas Estaduais estão paradas há algum tempo. O Governador resolveu que para acabar com a greve bastava cortar os salários dos rebeldes. No mesmo período os drs. (com e sem doutorado) paralizaram suas atividades e, para evitar um caos ainda maior no sistema de saúde foi lhes concedido o aumento solicitado.


Quando conheço algum pré-vestibulando pleiteando uma vaga em curso de licenciatura aconselho a entrar imediatamente em sites de concursos públicos para verificar os salários oferecidos para essa classe de trabalhadores. Se é o que ele realmente está procurando, que siga em frente né?


Sou professora de história há cinco anos, estou formada há apenas 2 anos e quando me imagino já idosa aguardando a aposentadoria sair no Diário Oficial, penso em como seria bom não morrer tão velha.
A professora Amanda Gurgel falou sobre a realidade do professor no Rio Grande do norte e eu aqui na Bahia me senti contemplada. Lamentável.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A resposta que não coube em 140 caracteres. Toma que é tua Rafael Velame.

Hoje é SEGUNDA! Dia oficial do Vicetória, e a comemoração dessa galera é legítima, como dizer que não?
Não me lembro de já ter mencionado por aqui, mas sou BAHÊA. Acho realmente linda a rivalidade futebolística e a maneira como os bahianenses conseguem lidar com as derrotas em campo. A cerca de duas semanas atrás eu estava junto com algumas amigas assistindo ao Clássico BaXVi em um restaurante de Feira de Santana e, ao final do embate, saindo o Vitória vencedor observei a reação de um torcedor do Bahia responder à provocação do rubro-negro com a seguinte frase: -“Amigo, o Bahia sempre perde, é comum. Já nos acostumamos com isso e somos Bahia mesmo assim”. Fiquei fã do cara. Eu vivo dizendo que a torcida do Bahia é a BAMOR, ou seja, torce porque ama e não porque ganha.
Na tarde de ontem 15 de maio de 2011, aconteceu a grande final do campeonato baiano, que como muitos sabem, terminou com o êxito do Bahia de Feira. Achei lindo, digno, chique, fantástico um time do interior calar o Barradão e para completar ter em seu nome a palavra BAHIA. Durante a partida começou no twitter, e provavelmente em outras redes sociais uma disputa de piadas, de rubro-negros contra tricolores e vice-versa.
Você sabe como funciona o Twitter? A grosso modo o twitter é assim: Você cria um perfil e vai escrevendo o que você quer em 140 caracteres. Quem te seguir vai poder ler tudo o que você escrever, mas existe a opção de tornar seus “tweets” privados, nesse caso só poderá ler o que você escreveu aqueles que você quiser que leiam. O twitter é uma febre e os feirenses seguem essa tendência já há algum tempo. O interessante é que muitos ‘twitteiros’ parecem não saber ao certo como é que funciona essa nova ferramenta. O que você diz se torna público e não adianta chorar, todos que lêem se sentem no direito de comentar.
Voltando à situação que comecei a narrar no 3º parágrafo desse texto, ontem durante as provocações ‘twitescas’ fui surpreendida com uma reação inesperada de um pseudo-jornalista feirense. Um tal de Rafael Velame (ww.twitter.com/rafaelvelame) se ofendeu porque eu resolvi comentar com algum humor os seus tweets revoltados contra a derrota do VICEtória.
A primeira reação do rapaz foi perguntar se eu era “NEGA” de jogador do Bahia de Feira. Prefiro não levar em consideração o caráter racista desse termo e pensar apenas pelo ponto de vista dos estudos de gênero. Esse cara é machista. Uma mulher só pode fazer piada de futebol se for ‘NEGA’ de jogador?
Como se espera de covardes, o rapazote apagou seus tweets ofensivos. É comum e trata-se apenas de mais um ‘homem’ que –sei lá por que motivo- julga-se melhor ou mais importante do que o outro, no caso a outra, demonstrando em sua fala (no caso escrita) o seu preconceito. Os meus tweets estão lá, e quem os quiser ler vai poder, por que eu respondo pelo que publico, não me escondo embaixo da saia de ninguém. Sou mulher, mas como diria Rita Lee, “Sou mais macho que muito homem”.
A única intenção de escrever esse texto a essa hora da manhã é dizer a quem interessar possa que o twitter é um espaço aberto, todas as pessoas podem questionar e comentar o que acharem que devem e, por isso mesmo precisamos ter o cuidado de pensar antes de escrever (não é essa a vantagem dos humanos?). Não ofendi o referido torcedor. Não usei palavras de baixo escalão nem mesmo quando ele perguntou se eu era “NEGA” de alguém e fingi que não li quando ele escreveu que “Tem que ter paciência pra agüentar vagabunda, na moral”. Sabe por que Rafa? Porque eu não ganho nenhum centavo com futebol. Eu ganho alegria, ganho amigos. Você que se diz jornalista (não é isso?) é que poderia tirar algum proveito disso, mas ao que me parece não tem competência. Lamento muito que a imprensa feirense conte com membros como você.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Quem quer ser um universitário?

' É um novo Apartheid, sem dúvidas.
Baixou o nível dos estudantes de universidade pública.
É injusto, o governo está dizendo que os cotistas não têm capacidade para entrar na universidade com seus próprios esforços, isso é afirmar a inferioridade deles. '
 A idéia principal é (ou deveria ser) melhorar o ensino desde a sua base e então garantir uma educação de qualidade para todos, mas aí nos perguntamos: E o povo que já teve uma educação de base ruim, fica como?
A política de cotas é (ou pelo menos deveria ser) uma política de ação paliativa, no sentido de que atenderia a essa demanda. Enquanto a educação de base é melhorada, os estudantes que não tiveram esse direito (a ter uma educação de base de qualidade), recebem o benefício de ter vagas "garantidas" dentro das universidades públicas do país.
Precisamos deixar de demagogia e assumir que o ensino das escolas públicas do Brasil é, em geral, muito inferior ao ensino das escolas particulares. As escolas têm estrutura precária, os professores estão desmotivados, a coordenação em geral faz um trabalho de faz-de-conta e os estudantes, ah! Esses estão entregues à sua própria sorte.
O aprendizado nesses ambientes é mínimo quando comparado a instituições privadas e o resultado disso fica nítido nas avaliações Brasil a fora.
As cotas servem para equiparar, a competição fica de igual para igual. Estudantes de escolas particulares competindo com seus colegas oriundos do mesmo tipo de instituição e estudantes de escolas públicas competindo com pessoas de nível escolar semelhante ao seu. Sim, claro existem inúmeras exceções, sempre irão existir, mas essa, por hora, é a regra geral.




Certo, mas e os negros?




Não apenas os negros mas também os indígenas, têm cotas para entrar nas universidades públicas Brasil a dentro. Estão subestimando sua capacidade cognitiva?
Esse é o argumento dos que acusam a política de cotas de racismo. Se todo o racismo no Brasil colocasse a vítima em um patamar semelhante ao do agressor, não precisaríamos nem desse disfarce de democracia racial no qual fingimos acreditar, né?
No ano passado, Vovô do Ilê em entrevista ao vivo ao Jornal Hoje, justificou a exclusividade de negros no bloco carnavalesco (Ilê Ayê) dizendo que no dia em que negros e brancos fossem tratados de forma igual na Bahia (e no Brasil), os brancos poderiam comprar a fantasia do Ilê. Os não contemplados com essa resposta certamente reviraram os olhos e gritaram RACISTA!  Mas Vovô já viveu muito, ele sabe o que diz.
Quando se vai aos classificados de jornais em busca de empregos, não é difícil ler-se: "boa aparência".
Ter boa aparência no Brasil é não parecer negro e nem pobre, é ter traços de brancos. 
Os negros e os indígenas conseguem equiparar-se aos brancos quando estão um nível acima deles, por que o fator COR ainda conta, e muito.
Ainda hoje utilizamos a expressão bronwn para designar gente que achamos parecidos com ladrões. Brown é a cor marrom em inglês, e marrom é a cor do negro, então estamos dizendo que os negros parecem ladrões, procede?
Há igualdade racial no Brasil?
Se não há igualdade de tratamento na vida fora das academias (aqui entendidas como universidades), por que nos assustamos com a desigualdade no processo de seleção das universidades? É reparação. É uma maneira de dizer: 'Olha, a sociedade não te aceita, os empregadores não te quarem, os livros didáticos te ignoram, as novelas te ridicularizam, mas a universidade está de braços abertos para você. Aquele é o seu espaço e a partir de lá você pode mudar tudo isso para os seus filhos'.
Não sou cotista (adoraria ser), sou negra, sou professora, tive alunos de escolas públicas e particulares das mesmas séries e vi a diferença bem de perto. Enquanto professora defendo as cotas como medida paliativa para reparar esse abismo entre estudantes brancos de escolas particulares e estudantes negros de escolas públicas e hoje, como estudante e vestibulanda, não sou beneficiária desse sistema, justamente por não pertencer a nenhuma das camadas citadas. Sou negra de escola particular e defendo as cotas, até que a educação de base da escola pública eduque seus alunos e que negros e brancos sejam de fato vistos como iguais nesse país.
Me senti escrevendo um discurso de final de novela mexicana, mas enfim né? É isso aí, opinião é de graça e se não envolver nada que possa ser considerado crime a gente pode dar.

domingo, 3 de abril de 2011

O povo tá preguiçoso!

'Ninguém quer trabalhar mais!
O povo prefere viver na miséria do que trabalhar numa casa de família, um absurdo!
A culpa disso é do governo que acostumou os pobres com o bolsa família, criou um povo preguiçoso, que prefere viver na miséria do que trabalhar.
Antigamente que era bom, essas meninas novas iam para as casas de família trabalhar, e eram todas de confiança, agora só querem saber de homens'.
Quem nunca escutou isso?
Com todas as ressalvas que podem (e devem) ser feitas ao bolsa família e seus derivados, considero que ele acabou valorizando o trabalho do pobre.
É isso aí, me diga amiga (ou amigo) quem, em sã consciência vai sair de sua humilde residência para trabalhar na casa de outra pessoa e ganhar cem reais no final do mês, se pode ficar em casa mandando o filho ir para a escola e receber a mesma bagatela?
Não sei se foi criado com essa intenção,mas essa foi uma das consequências desse programa. O trabalhador pobre não aceita mais receber qualquer trocado em troca de seu trabalho.
E quem se incomoda?
Quem se incomoda com essa situação é uma camada emergente. É aquela gente que tem empregada doméstica e não pode pagar um salário digno (ou seja, não pode ter empregada doméstica, mas quer ter uma). Esses é que dizem que o bolsa família deixou o pobre preguiçoso e acomodado.
Engraçado como queremos ter o nosso trabalho recompensado e reconhecido mas não nos importamos com o trabalho do outro (principalmente se esse outro estudou menos do que nós).
Não recebo o bolsa família, não sou petista. Não sou ninguém, mas aqui escrevo o que eu quero né? Pois.