sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Eu assisto o que eu quero!

Essa semana uma menina lá da minha sala perguntou para a professora de Português: - Por quê você não se inscreve no Big Brother?
Pronto...
Foi meia hora de aula discutindo o quão alienante é o programa mencionado.
A professora entre outras coisas falou que na casa dela a TV é programada para pular o canal 11 (no caso a Globo). Começou um tititi, aquelas discussões de intelectuaizóides.
E eu, como sempre fiquei inquieta.
Mas peraê, como é que você vai saber que o BBB é ruim se o canal não pega na sua TV?
Preconceito.
Não confunda aqui com discriminação, não sei se é o caso, mas é preconceito sim. Para saber se é ruim ou bom eu preciso experimentar, sacomé?
Eu conheço um monte de gente que se acha esperto por que não assiste novela, Faustão e nem BBB, mas fica lendo Veja, Época e Correio. Ah, grande vantagem!
Depois que aprendi a ler parei de me proibir das coisas.
Se eu chegar em casa e estiverem assistindo Tereza Cristina jogando Grizelda da escada eu vou assistir no maior entusiasmo! Se estiver passando a feirense do BBB12 dizendo que veio da roça e que cria galo eu vou assistir também, sabe?
Por que descobri que muito melhor do que mudar de canal ( a não ser que o que esteja passando no outro canal seja realmente mais agradável para mim) é saber ler o que se vê.
É assistir a novela e me perguntar que valores são esses que ela tenta me passar e desconstruí-los.
Por falar nisso, no primeiro dia do BBB uma cena me chamou muito atenção, a pergunta de Bial para o participante negro, sobre cotas...
Tirou onda né?
Tirou.
Sambou na cara da sociedade, mas não pela resposta patética e clichê e sim pela cara-de-pau, dele e do entrevistador.
A pergunta foi direcionada e já tinha resposta ensaiada. Na verdade a ideia do programa era responder à sociedade por que o BBB12 tem apenas um participante negro (não que nas outras edições os negros tenham dominado, né?). Respondeu mal, bem do jeitodas organizações Globo. Picou-lhe um clichêzão na nossa cara e mandou todo mundo engolir calado.
Teve gente que aceitou.
É aquela coisa, cada um lê o mundo de um jeito né?
Esses dias mesmo, tava lendo lá no facebook uma galera postando essa foto aí, legendada, achando a resposta mais phodástica do mundo,  vi gente dizendo até que no Brasil racismo não existe faz tempo...
Democracia racial? Ah, tá, senta lá.
Vamos fazer uma brincadeira clássica.
Você é dono de uma loja de roupas Trend Topics lá do shopping, coloca no Jornal um anuncio para a seleção de um vendedor, recebe os currículos e seleciona os dois mais qualificados para uma entrevista. Depois que a moça lá do RH faz as entrevistas ela te entrega os documentos dizendo que os dois são excelentes e que você vai ter que escolher um. Te entrega as fotos abaixo: 



E aí?
Quem fica com o emprego?
Vai mentir, né? Não precisa, eu não sei sua resposta e não vou te julgar. É você quem vai fazer isso por mim. Segredinho seu.
É disso que eu falo.
Aqui no Brasil negros e brancos não estão equiparados.
Para ser equivalente ao branco, o negro sempre tem que estar um degrau acima. Ou é mais qualificado, ou mais rico, ou menos inibido. Se não se destacar em nada, acredite, o branco está na frente, por que o Brasil gosta de brancos.
É costume de colonizado né? O europeu é o melhor, sempre.
E agora que eu sei disso, o meu racismo latente sumiu?
Não.
Mas eu vou lutando, uma hora consigo descolonizar minha mente! (Parafraseando Christiane Vasconcelos)